Antonio Fais, São Carlos - SP
Tanto Fais - - Tanto FaisUm pouco de mim.Antonio FaisVisualizar meu perfil completo quarta-feira, 25 de setembro de 2019 Você foi. Você é. Nãoseria possível acreditar: ele estava sentado ao seu lado no avião – sua grandepaixão de infância. Quanto tempo? Quando foi a última vez que tinham se visto? Janeirode 74. Sábado, 19 de janeiro, às oito da noite. Aeroporto de Congonhas. O paidele iria trabalhar nos Estados Unidos e ela foi com toda a escola se despedirdele e da irmã no aeroporto. Havia lhe feito um cachecol, pois imagina friaNova Iorque nesta época do ano. As últimas palavras dele a ela foram: “Vocêé.”, mas todos começaram a cantar uma música de despedida e nunca mais seviram. Agora ele estava lá, ao seu lado e nem lhe havia reconhecido. Deleela sabia tudo ou quase: morava na Rua Riachuelo, 402, perto do Parquinho. Eraum aluno fraco que quase a fez repetir a oitava série. A mão dele não tinhaaliança. Será que se casou? Tem filhos? Será que estudou? Quase não tem barriga.De terno!Emocionada,ela se esqueceu até do medo de voar e nem percebeu a decolagem da ponte aéreaRio-São Paulo. Quando novamente voltou-lhe os olhos, ele a olhavafixamente, como quisesse dizer algo importante, como tivesse uma grande dúvida: - Oi. Você é. – eparou hesitante a frase. Elase lembrou de sua última frase do aeroporto, das lágrimas sobre o piso preto ebranco do aeroporto, e agora, como se o destino quisesse retomar exatamente doponto em que pararam. Mas, antes que ele continuasse, ela facilitou: - Eu sou a Silmara.Lembra? Estudamos juntos da primeira à oitava série. - Silmara Correia eCastro. Número 32, menos na sétima série, era 34. Rua Quintino Bocaiúva, 732,fone meia nove nove, depois dois meia nove nove. Melhor aluna da classe,tocava piano e organizava a equipe das gincanas. Você foi. - Nossa! Nem eu melembrava daquela época que os telefones tinha três dígitos. Como você se lembrade tudo isso depois de 32 anos? - Trinta e dois anos e nove meses hoje! Tem coisas que a gente não esquece! Você foi. - Lembra do final daoitava série? - Lembro. Eu ia levarpau de matemática, você me passou a cola na última prova. Mesmo assim, eufiquei de exame e, por sorte, você também. - Não foi por sorte.Eu sabia que você não passaria no exame e ia precisar de cola novamente. Aí eutirei uma nota bem baixa na última prova para poder fazer o exame final comvocê e estudarmos juntos. - Puxa. Você iria seorgulhar. A partir daí me tornei um bom aluno. Cursei matemática. Em Harvard.Acredita? E hoje sou doutor em matemática! Acho que sem você eu teria repetidoo ano e hoje seria. Sei lá! Você foi. Você é. - Eu? Eu. Quemdiria! Doutor em matemática! Elenunca foi muito bom com as palavras. A mão dela, cheia de anéis, não lhepermitia identificar se havia ali uma aliança ou não. Aquela menina magrinhatinha se tornado uma bela mulher. O que teria sido da vida dela. Por que elanunca o deixava concluir a frase? - E você o que faz? –Pergunta ela. - Eu? Eu me casei,tenho dois filhos, um mora no Rio, depois eu me separei e agora. Senhores Passageiros, estamos iniciandonosso procedimento de aterrissagem no Aeroporto de Congonhas em São Paulo. Porfavor, apertem os cintos. - Está tudo bem? –Perguntou ela logo após o anúncio do comandante. - Não. Eu morro demedo de voar. Até me esqueci disso depois que a vi. Mas decolagens e aterrissagensquase me matam.Levo um bom tempo para me refazer. - Segure naminha mão. Isso ajuda a diminuir o medo. Demãos dadas, ela nem medo tinha mais. Poderia até cair o avião.Juntos, sem perceber as mão dadas ainda, percorriamo piso xadrez do aeroporto donde tinham se despedido há 32 anos. Em silêncio,caminharam para os táxis, ela se despediu e entrou em um carro preto. Do banco de trás, do outro lado da rua, ela sevolta e grita: - O que você ia dizernaquele dia? - Ia dizer que vocêfoi. você é. Passa, porém, um ônibus entre eles que não a deixaouvir a conclusão: - .o grande amor deminha vida - a todo pulmão. E quando ele olha aliviado por finalmente terconcluído a frase guardada há 40 anos, o carro não estava mais lá.Postado porAntonio Faisàs19:54Nenhum comentário: segunda-feira, 22 de junho de 2015 Gordo FDP! Muitose aprende nos livros, mas o dia-a-dia é um livro aberto que nos ensina bemmais, basta ter olhos para lê-lo. E um café em uma padaria com amigos valepor muitas aulas. Eno sábado passado, quando eu frequentava minhas aulas de filosofia de padaria,aconteceu um caso interessante: Umamigo, o Gordo, engraçado e inteligente, mas bastante sarcástico, saiu parafumar e continuamos nosso papo com outros amigos fumantes na rua. Não me lembromais do assunto, até porque deles fica o sumo e não as palavras. Eles seentremeiam com chistes e anedotas. Enfim,o Gordo e o Rochinha fumavam, eu e o Celso falávamos, quando passou uma senhoracom o marido e dobrou a esquina. Nós nem teríamos notado sua passagem se elanão voltasse e abordasse o Gordo de forma agressiva: “O seu cigarro queimouminha blusa”. Demoramosa entender o que acontecia. Seu marido ficava um passo atrás, constrangido.Afinal, éramos três e ele apenas um. E foi colocado na situação a contragosto. Amulher repetiu o que havia dito, um pouco mais alto: “O SEU CIGARRO QUEIMOU AMINHA BLUSA”. OGordo tinha um olhar estranho, como se a mulher falasse Grego, Sânscrito ououtro idioma qualquer. Seu canto de boca esboçava um sorriso que eu não soubeidentificar de imediato se era de ódio, medo ou raiva. Ele deu um trago nocigarro, soltou a fumaça pelo nariz e de modo formal e lento, começou a falar,como se fosse um político ou orador de turma, parecia ler um texto pronto:“Minha senhora, por gentileza, gostaria que a senhora, e o senhor, – disseolhando ao marido –aceitassem as minhas mais sinceras desculpas”. “Masquem vai pagar pelo meu prejuízo?”, perguntou a mulher em tom desafiador. “Quantocusta sua bela blusa?”, inqueriu o Gordo. “Unsduzentos reais”. OGordo respirou fundo e continuou: “Eu estou sem esta quantia no bolso. Masfaçamos o seguinte, compre uma roupa nova, mesmo que seja mais cara, e ligue-mepara passar o número de sua conta que vou depositar o quanto antes”. Pediulicença por um instante, foi ao caixa da padaria, pegou um papel e anotou o nome e número do celular. Econcluiu: “Eu vou viajar amanhã bem cedo. Volto apenas daqui um mês. Então, por favor, ligue-me entre cinco e seis damanhã, pois depois não poderei lhe atender”. Amulher contemplou o papel com os dados, agradeceu e saiu. Ainda ouvíamos elaargumentar com o marido: “Tá vendo. E você não queria que eu reclamasse. Vocêabaixa a cabeça pra tudo.”. OGordo pediu licença a nós e foi embora. Ficamos os três e mais alguns que seaproximaram comentando o assunto. Nestanoite fui dormir com certa admiração do Gordo. Como foi fino e elegante. Achoque eu teria argumentado com a mulher, mas ele não, resolveu tudo com classe.Adormeci pensando nisso. Acordeiassustado de madrugada com meu celular tocando na sala. Corri para atender e dooutro lado a voz dizia: “Seu Antonio. É Aparecida, a mulher da blusa. Conformeo senhor me pediu, estou lhe ligando bem cedo para lhe passar o número de minhaconta.”. E eu gritei: “Gordo FDP!”.Postado porAntonio Faisàs21:06Nenhum comentário: segunda-feira, 15 de setembro de 2014 Quatro Cinco Seis - Alô!- Laura? Gilberto. Tudo bem?- Que horas são?- Duas.- Da madrugada?! Aconteceu alguma coisa? Tá tudobem?- Eu queria lhe pedir perdão.- Perdão?! Por quê? Ah! Tá perdoado.- Estou falando sério.- Eu também. A esta hora perdoo qualquer coisa.- Eu não queria lhe ter dito o que disse.- Esquece. Já faz tanto tempo. E agora é tarde.- Pra você me perdoar?- Não! Eu já disse que perdoo. É tarde damadrugada! Eu estava dormindo.- Então você me perdoa?- Perdoo!- Que bom! Eu não ia conseguir dormir se nãofalasse com você e você me perdoasse.- Acho que nem eu.- Como assim?- Deixa pra lá. Vamos dormir?- Agora acho que vou conseguir dormir.- Espero que eu também. Boa noite!- Boa noite. - Alô.- Laura? Imagino que você não tenha conseguidodormir depois de nossa conversa.- Oi. Que horas são?- Sete.- Tudo bem? Você me ligou ontem à noite, né?- Você não se lembra?- Vagamente. Eu estava dormindo. Depois dormidireto e ainda estou meio sonada.- Puxa!- Você queria me pedir perdão. Eu nem sei por quê.- Pelo que lhe disse quando a gente terminou.- Já faz tempo. Tá tudo bem.- Tá tudo bem mesmo?- O que houve? Por quê esse arrependimento repentino?- Tudo que eu lhe falei.- É. Na época fiquei muito magoada mesmo. Tambémvocê chegou para mim e disse que me olhava e não sentia mais nada. Ou seja queeu não era nada. Lembra?- Sim.- Até lhe perguntei se tinha outra e você falouque não. Fiquei perdida.- É. Mas tinha.- E por que você não falou?- Sei lá. Não tive coragem. Achei que você ficariamuito magoada.- É pior o que você me falou: que eu não era nada.Ser trocada por outra, tudo bem. Mas por nada!- Sei.- E o pior: Eu suportava várias coisas suas. Nãoleve a mal, mas você é meio complicado. No começo me ligava a toda hora, parasaber onde estava, o que fazia. Morria de ciúmes à toa. De repente, para e nãoliga mais. Você nunca foi carinhoso, atencioso.- Puxa, Laura!- Sim. Você me tratava mal e eu, infelizmente,aceitava. E, é meio chato falar, mas mesmo o sexo era ruim. E, ainda assim, eunão servia para você! Foi difícil.- Pô! Eu ligo para pedir perdão e fica querendo mearrasar.- Não. Eu tô só contando como me senti.- Mas precisa falar que eu era ruim de cama.- Você que está dizendo isso.- Por que você nunca me disse isso? O que tinha deerrado?- Você dava uma rapidinha e pronto. Quando eu tavacomeçando esquentar.- Você está namorando?- Não exatamente. Tenho um grande amigo, mas agente resolveu não namorar.- Ficando! Moderna você!- Pode-se dizer que somos “ficantes”. A gente saiquando dá, quando a gente tá afim. Não tem ciúmes. Cada um mora em sua casa,mas vez por outra passamos o final de semana juntos.- Como a gente fazia?- Não. Ele cozinha para mim. Eu lavo os pratos. Agente vai comer fora de vez em quando.- E ele é bom de cama?- Desencana! - É ou não é?- É diferente. A gente, quando fica junto, dá umtempo para saber o que o outro quer. Não tem essa de ficar contando problemasou coisas boas que fizemos. A gente fica em paz e descobre o que ambos queremfazer. E o que fizer a partir daí é bem feito, pois era o que ambos queriam.- Eu que achava que você queria casar?- Acho que até queria, não quero mais. Dura bem nomáximo dois anos, depois se aturam.- E eu achei que você estava magoada comigo!- Que nada! A melhor coisa que me aconteceu foiaquele pé na bunda! Vi que esperava coisas erradas dos homens. Que eles podemdar muito mais. Se não fosse com você, teria me casado de novo com outroqualquer. Agora não, vivo bem assim e se ficar sozinha, fico bem também.- Então tá. Eu só queria mesmo pedir perdão.- Tá perdoado. Tá bom assim. Um beijo.- Alô.- Laura, quantas ele dá?- Gilberto, deixa isso pra lá.- Quantas?- Sei lá. Quatro, cinco, às vezes, seis.- Tá me gozando? Ninguém consegue isso!- É que ele não gasta energia jogando futebol atarde toda e depois tomando cerveja com os amigos. A gente, quando sai, não vaia rodízio, vai a restaurante japonês, toma vinho ao invés de cerveja.- Ah. Então é rico.- A gente racha a conta, cacete!. Esqueceu que euganho bem. Você que falava: “mulher minha não paga a conta”.- Mas seis! Quantos anos ele tem?- Para com isso.- É garotão, né? Quantos anos?- Quarenta e seis.- Quarenta e seis!- Olha, meu celular está tocando. Outra hora agente se fala. Beijo. - Alô!- Oi Laura.- Pô, Gilberto. Que horas são?- Meia-noite. É que eu não conseguia dormir.- Que foi agora?- Quatro, cinco, seis?!- Desencana. Boa noite!Postado porAntonio Faisàs12:19Nenhum comentário: Postagens mais antigasPágina inicialAssinar:Postagens (Atom)Livros vs AmigosA cada história lida, converse com os amigos: a digestão é tão importante quanto a comida; e amigos são mais que livros.PublicaçõesA Arte de EscreverSeguidores